A DISCUSSÃO SOBRE A
GRAMÁTICA NORMATIVA EM BECHARA
Moisés C. Bezerril
A obra supra citada é organizada em 5
capítulos de conteúdo, um capítulo de vocabulário crítico no qual o autor faz
uma lista de termos empregados na linguagem da obra, dando uma breve explicação
de cada um deles; e uma bibliografia comentada ao final do livro, com uma lista
de quinze livros dos mais importantes trabalhos em lingüística, sendo a maioria
deles datados da década de 1970.
O autor apresenta os problemas
causados pela tendência moderna de valorização da linguagem coloquial acima da
linguagem culta. Sem deixar de reconhecer a função da linguagem coloquial, ele
desenvolve seus argumentos no objetivo de convencer todos os profissionais do
ensino de línguas que o padrão culto da língua é o único meio pelo qual os
alunos podem ascender ao conhecimento e à produção lingüística. O mesmo não se
pode dizer da linguagem coloquial. Esta é opressora, porque mantém os
indivíduos distantes das possibilidades de desenvolvimento; já o padrão culto é
libertário, pois abre as portas ao universo do conhecimento, da formação, e da
produção científica.
O primeiro capítulo trata da crise
que se estabeleceu em três níveis, por conta da escola não conseguir levar o
aluno a desenvolver o potencial lingüístico com que cada um ali chega. Essa
crise acontece na ordem da sociedade, quando a linguagem coloquial passa a ter
proeminência sobre a linguagem culta, fazendo a sociedade correr o risco de
acabar tendo dois dialetos; uma crise na universidade, quando a disciplina da
lingüística não consegue definitivamente expressar seu objeto de estudo, suas
tarefas e sua metodologia; e na escola, onde a ênfase dos professores acaba
sendo muitos mais na gramática geral e descritiva, desprezando a gramática
normativa, o que vem a limitar o
potencial lingüístico do aluno.
O
segundo capítulo descreve a origem da separação e privilegiamento da linguagem
coloquial sobre a linguagem culta, que tem seu início na década de 60 devido a
fatores lingüísticos e políticos. O autor define a idéia de opressão e
liberdade em relação ao uso dos dois níveis de linguagem e considera que a
missão do professor é transformar o aluno num poliglota dentro de sua própria
língua. Faz-se distinção entre língua e linguagem, e reconhece-se que a escola
precisa reformar o currículo e as atividades didáticas para a educação
lingüística.
Ainda
nesse capítulo, o autor apresenta o verdadeiro desafio da educação lingüística
moderna enfatizando a linguagem, que
contrasta com sua antiga visão centrada apenas na língua e na gramática.
No
terceiro capítulo o autor trata de como o ensino da língua portuguesa passou de
mera análise lógica à uma ampliação do entendimento da função da língua, com
vistas ao emprego de uma função cognoscitiva mais alta. Para isso ele apresenta
uma lista das competências da língua que deveria se transformar num programa
didático que o professor deveria desenvolver na escola. Assim, ao invés da
escola apenas “ensinar a ler e escrever”, deveria “ensinar a falar”; isso
estimularia a formação da competência receptiva dos alunos, tornando-os aptos
para transformar as informações de seu mundo pela competência produtiva.
No
quarto capítulo o autor estabelece a diferença entre gramática e lingüística,
mostrando todo o processo histórico pelo qual a gramática portuguesa passou,
desde sua natureza de gramática histórica até se tornar gramática gerativa e transformacional,
embora esta última ainda não tenha influência positiva na gramática escolar.
Ele descreve a diferença entre língua histórica e língua funcional, sendo esta
última o imperativo da análise lingüística. Sua proposta é que a gramática
escolar seja uma provisão da língua funcional, após decidir-se por qual técnica
lingüística unitária e homogênea tal gramática deverá descrever em especial. Na
visão do autor a gramática deveria ser auxiliada pela lingüística para
determinar qual língua funcional deveria ser descrita, e qual língua funcional
deveria ser confrontada.
No quinto
capítulo, o autor expõe a utilidade da gramática tradicional como sendo tão
útil quanto outra alternativa até agora apresentada. Para ele, o professor de
língua portuguesa não deve desprestigiar o valor da língua coloquial, mas deve
centrar sua atenção no padrão culto, que será o único viável para a produção
lingüística do aluno ao escrever e falar. Segundo o autor, tem havido confusão
de conceitos e níveis de língua oral e língua escrita, língua coloquial e
língua culta, que tem ocasionado grande prejuízo para o ensino de língua
portuguesa. Essa confusão tem levado os professores a desacreditar os padrões
da língua escrita e culta, o que os levou ao desconhecimento de tais padrões.
Outra
questão abordada neste capítulo trata da distância entre o lingüista e as
práticas docentes. Exige-se que o professor de português esteja muito bem
munido de recursos didáticos e que esteja mais próximo dos estudos de docência.
O
autor encerra seu trabalho sugerindo aos governos a implantação de uma revista acadêmica na qual
intelectuais das áreas das letras e da educação se encontrem para debater os
problemas pertinentes ao conhecimento científico.
AVALIAÇÃO DA OBRA
A raiz do problema levantado por
Bechara está no movimento filosófico do pós-modernismo. Como a modernidade
encerra sua busca pelos absolutos, os pós modernos não querem mais saber de
padrões fixos ou natureza absoluta de coisa alguma. Embora as ciências
positivas escapem – em certo grau – das influências do pós-modernismo, o mesmo
não acontece com a linguagem. Compreender o social à luz do pós-modernismo
compromete também a linguagem. Com a super valorização dos modelos
antropológicos e sociais libertários, deu-se também a valorização da língua
coloquial sobre os padrões cultos, entendidos como opressores, castradores, e
inibidores da verdadeira essência da humanidade. Esse é o motivo por que o
coloquial tem sido tão enfatizado modernamente.
O meu parecer sobre o trabalho do
Evanildo Bechara é de reconhecimento da importância atual do tema. Agora mais
do que nunca a questão da valorização da língua coloquial tem sido levantada
pelo governo federal, num momento de confusão que o próprio Bechara alude em
seu trabalho. Como disse o autor, a ênfase demasiada sobre um aspecto da
linguagem acaba trazendo conseqüências graves para o conhecimento científico.
O ponto alto do trabalho do Bechara é a
sua mensagem de que considerar o padrão culto da língua como de menos
importância é furtar o direito do aluno de ampliar, enriquecer e variar seu
patrimônio inicial de sua linguagem. Na verdade, o padrão culto é libertador,
enquanto que o coloquial é opressor, reduzindo as pessoas às possibilidades e
competências mínimas.
RECOMENDAÇÃO DA OBRA
Pelo seu conteúdo altamente equilibrado e bem
verossímil, a obra é recomendável para
todos os estudantes de lingüística, aos professores de línguas, aos gramáticos
e estudiosos das letras, bem como aos estudantes do Curso de Letras, por tratar
de uma questão moderna e necessária de mais reflexão dos problemas que ainda
estão circulando nas salas de aulas e nas cartilhas escolares; problemas esses
que podem tornar-se uma ameaça não só ao conhecimento científico, como também à
própria liberdade humana.
BIBLIOGRAFIA
BECHARA, Evanildo. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade?
São Paulo: Ática, 2005.
Belíssimos textos, parabéns!
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